terça-feira, 12 de junho de 2012

Berlim: tudo de novo no front


Portão de Brandemburgo, construído entre 1788 e 1795, foi inspirado na cultura neoclássica e testemunha de vitórias e derrotas da Alemanha séculos afora

Visitar a cidade de Berlim pela primeira ou pela vigésima vez é ter uma certeza: jamais se conseguiráentendê-la, absorvê-la por inteiro. A capital da Alemanha tem um dinamismo, uma velocidade e pluralidade simultâneas à preservação da memória, à valorização da vida e de sua história; estar aqui é ser arremessado ao passado e ao futuro ao mesmo tempo. É uma cidade que lembra a teoria de Heráclito de Éfeso que diz: “um homem jamais banha-se duas vezes em um mesmo rio, pois quando retorna para seu segundo mergulho nem o rio, nem o homem serão os mesmos”. Assim é Berlim e quem a visita, mutantes.

Para assimilar Berlim sem preconceitos ou estereótipos é preciso, antes de tudo, tempo suficiente para poder sorvê-la e, depois, um coração aberto para entender a essência de uma pátria forjada na guerra. A Berlim moderna-tecnológica e pós-industrial que cria seres autômatos e pragmáticos, é também uma cidade com habitantes sensíveis, poéticos, artesanais, que andam de bicicleta e a pé pelas ruas. Fábricas de automóvel e equipamentos cibernéticos fazem parede a teatros do absurdo e galerias de artes surreais.

A catedral Berliner Dom, construída entre 1747 e 1750, traduz o passado; já a torre de TV - (Fernsehturm), de 365 metros, aponta para o futuro


“Atrás apenas de Londres e Paris, o turismo berlinense tem sentido uma enorme ascensão, primeiramente com a queda do muro, em 1989, e posteriormente com a realização da Copa do Mundo na Alemanha, em 2006; nesses últimos 20 anos Berlim teve um desenvolvimento incrível, todo o mundo quer vir constatar o que se passa em nossa cidade”, afirmou ao DIÁRIO Christian Tänzler, porta-voz do Visit Berlim, departamento do município responsável pelo turismo da capital alemã.

Christian Tänzler: destino contagiante


Cabeça de lista
Christian não usa chutômetro. De acordo com agências regionais de estatísticas da Alemanha, Berlim teve no ano passado, 9.2 milhões de roon-nights de visitantes internacionais; nos primeiros dois meses deste ano, janeiro e fevereiro, foi registrado um aumento de 12.7% comparado aos dois primeiros meses de 2011. A capital alemã encabeça esta lista seguida de longe por Munique (5.4 milhões) e Frankfurt (2.8 milhões).

Em Berlim as coisas funcionam como uma grande engrenagem – que, no entanto, fique claro, não massacra, não sufoca, nem estressa. “É um destino contagiante; muita gente tem interesse em vir ver como foi possível de uma cidade em ruínas nascer uma cidade moderna combinada com sua história, rica em cultura, lazer e entretenimento principalmente para os jovens”, afirma Tänzler.

Aeroporto Berlim-Brandenburg: até 27 milhões de passageiros/ano


Aeroporto só em 2013
Mas é claro, em Berlim também acontecem imprevistos. A inauguração do novo aeroporto da Capital, o Berlim-Brandenburg International, que tinha data prevista para abertura no dia 3 de junho foi transferida para março de 2013, devido a problemas técnicos relacionados à proteção contra incêndios. A partir de então, este será o único aeroporto da capital alemã depois que os dois existentes, Schönefeld e Tegel deixarem de operar. A capacidade inicial do novo aeroporto será de até 27 milhões de passageiros por ano, no entanto, as autoridades alemãs da aviação e do mercado turístico já prevêem uma possível expansão para atender até 45 milhões de passageiros.

Andando pela região central de Berlim
Me desvencilho da visita que faríamos ao zoológico (Zoologischer Garten) e ao Tiergarten. Pego um taxi até o centro e passo pelo Bauhaus-Archiv – arrojados edifícios revestidos de vidro e pela sede de uma das maiores orquestras da Europa, a Philarmonie. A parte externa recorda uma tenda de circo da cor dourada. A arte e a cultura aqui são gêneros de primeira necessidade, uma espécie de munição do povo berlinense exposta nas praças e guardada em arsenais chamados museus, galerias, igrejas, edifícios e monumentos. Pago vinte euros pela corrida e pulo do carro quando vejo o primeiro congestionamento resultado de obras na pista. Sim, a cidade não para de se auto-construir.

Pago vinte euros pela corrida de taxi. A cidade não para de se auto-construir Philarmonie: parte externa lembra uma tenda de circo. Lá dentro temuma das maiores orquestras da Europa


Dortmund!
Caminho por essa Berlim magnífica e à primeira vista, inexplicável. É prazeroso sair do grupo e ter um momento só seu com a cidade, criar novas rotas, fazer outros itinerários. Por mais que a língua germânica não seja tão fácil de entender, com um inglês básico se chega a qualquer lugar de Berlim e não se passa fome.

As ruas transversais das principais avenidas são redutos de paz e tranquilidade. Todas arborizadas e bem cuidadas, nos remetem a pequeninas cidades do interior do Brasil, onde – com raras exceções, o espaço público é um direito inalienável do cidadão e para o usufruto de todos. Tem-se prazer em caminhar por essas ruas.

Torcida do Dortmund: regada a cerveja e linguiça frita


Aproximo-me de uma grande movimentação de pessoas, cheiro de churrasco e gente bebendo cerveja. Gritos de guerra e palavras de ordem em alemão são ouvidos ao longe. Não foi difícil entender o que acontecia. Uma concentração de torcedores do Dortmund idolatrava seu time que jogaria (isso eu soube depois) no dia seguinte com o Bayer de Munique. Me infiltro na massa de camisas amarelas com duas palavras-chave na boca ‘biar’ (cerveja) e ‘brat-vurst’ (linguiça frita). Assimilam-me.

“Ohya”, disse-me o balconista entregando-me a bebida e o churrasquinho alemão dentro de uma baguete. Como, bebo e grito:

- Dortmund! Dortmund! Dortmund!

Revelo meu dna brazuca, amante do futebol e por um momento esqueço da Alemanha Cult. Essa integração com a cultura gastronômica e etílica germânicas me deu energia para o acontecimento mais importante do dia: visitar o Portão de Brandemburgo.




Cartão Berlim
O Berlin WelcomeCard é aquele tipo de produto que as cidades do mundo todo deveriam copiar para intensificar e facilitar a vida dos turistas. Lançado em março deste ano, o Berlim WelcomeCard é um passaporte oficial para o visitante perambular pela cidade e escolher entre passeios, eventos, teatros, museus, pontos turísticos, lojas de souvenirs, restaurantes, cafés e clubes. Visitantes portadores do cartão têm descontos de até 50% para mais de 200 atrações populares em Berlim e Potsdam, além de transporte público gratuito.

O Berlin WelcomeCard está disponível a partir de EUR 17,90 com um total de oito diferentes opções- dependendo do tempo de permanência (48 horas, 72 horas ou 5 dias) e pode ser adquirido nos postos de informação turística de Berlim, nos aeroportos, nas empresas de transporte e em 350 hoteís da cidade, ou mesmo através da loja on-linewww.visitBerlin.de


Monumento

Quadriga serve de moldura para milhares de turistas que visitam a capital da Alemanha e detonam suas máquinas fotográficas


Antes de voltar para o hotel subo em um (eficiente, limpo e confortável) ônibus de transporte público – que me leva até a Pariser Platz, onde ergue-se o portão de Brandemburgo – símbolo de Berlim. Monumento construído entre 1788 e 1795 e inspirado na cultura neoclássica, foi testemunha de vitórias e derrotas da Alemanha séculos afora servindo de moldura para o desfile de estadistas. Hoje é o front de milhares de turistas que detonam suas máquinas fotográficas. Este monumento é coroado por uma escultura de cerca de 6 metros de altura de uma quadriga (quatro cavalos) conduzidos por Vitória, deusa grega.

O portão de Brandemburgo não explica a união das duas, mas das centenas de Alemanhas que integram Berlim, esta cidade camaleônica, que se renova e nos renova, a cada dia. Heráclito estava certo.

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