quarta-feira, 4 de julho de 2012

Jan Von Bahr: 'Não levam o turismo com a importância que deveriam'

“Os estados e até o governo federal não levam o turismo com a importância que deveriam levar”, diz o executivo do Grupo hoteleiro GJP, Jan Von Bahr, em entrevista concedida com exclusividade no Iguassu Resort à repórter do portal DIÁRIO DO TURISMO, Priscila Pariz . Temporariamente na direção do empreendimento de Foz do Iguaçu, antes de assumir a diretoria geral do Grand Hotel da Bahia, a nova aposta do grupo de Guilherme Paullus no segmento corporativo em Salvador, Jan Von Bahr conta sobre a transformação de um hotel de 70 apartamentos para um resort de 190 unidades que se consolida como um empreendimento cinco estrelas na região da tríplice fronteira, e analisa a evolução de Foz do Iguaçu, antes um destino de muamba, agora um destino turístico estruturado que serve de exemplo no Brasil.

“Têm cidades aqui no Brasil, sem citar nomes, que possuem áreas que inclusive foram tombadas ou reconhecidas pela UNESCO que quando você vai olhar na realidade não é nada daquilo, e por quê? Por falta de alguém que corra com a bola e fale vamos fazer daqui um grande destino", afirma Jan Von Bahr. Leia abaixo a entrevista na íntegra.




"Foz se reposicionou de um destino de sacoleiros, no passado, que vinham aqui para fazer compras no Paraguai, para um destino muito bem montado."
Diário: O Iguassu Resort vem crescendo muito, passando por reformas. Como está o hotel hoje, e qual o objetivo dessa ampliação?

Jan Von Bahr: O hotel tem hoje 195 apartamentos, só que estamos a mais de um ano em construção. O hotel tinha 70 apartamentos e foram construídos mais 120 novos, que foram inaugurados em outubro passado, além dos 20 apartamentos reformados a cerca de um. Nesse momento exato estamos reformando mais cinquenta dos antigos que ficarão prontos em final de julho, então a partir de 1 de agosto estaremos com 190 apartamentos novos e cinco casas menores, que serão reformadas.

A taxa de ocupação anual do hotel gira em torno de 55%, mas a nossa expectativa é aumentar essa ocupação para 60, 65% pelo menos. Porque na realidade, como o hotel andou muito em obras, e ainda vai estar por mais alguns meses, não foi feito um trabalho pesado em vendas, pois não tinha como realizar essas modificações recebendo mais hóspedes. Mas agora estamos montando todo um esquema, com a abertura de um escritório de vendas em São Paulo, além de em breve termos representantes regionais em Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro, em Curitiba e outro em Porto Alegre, e futuramente em Brasília, para abranger todo o Brasil. Então como eu falei, a questão das modificações, a primeira fase foi a construção desses 120 apartamentos, a segunda fase foi a reforma dos apartamentos existentes, para completar 195, paralelamente a isso estamos fazendo modificações no campo de golfe que irá reabrir agora, após a modificação, em agosto serão abertos nove buracos e em dezembro todos os 18.

A terceira fase da construção será iniciada no mês de julho com o novo centro de convenções, que terá em torno de 700 metros quadrados com capacidade, dependendo da montagem, de 600 a 800 pessoas. Nossa idéia é construir um centro de convenções que atenda o hotel, não queremos trazer eventos grandes para concorrer nem com o Bourbon nem com o Mabu ou o Rafain, queremos fazer um centro de convenções que atenda a um segmento de 150 apartamentos, então um local de 600, 700 metros quadrados é mais do que suficiente.

Além disso será feito também um SPA com produtos da l'occitane que nós vamos administrar, serão feitos também um kids club e um teens club, um edifício de mais ou menos 150 metros quadrados que vai ter uma área só para crianças até sete anos e outra de sete anos pra cima. Então a parte para os pequenininhos vai ter sala de jogos, sala para desenhos, berçário, copa, banheiros e piscina aquecida. Já no espaço para adolescentes haverá um web café com maquinas com acesso à internet, cinema, e do lado de fora um bar que atenderá também as quadras poli-esportivas que também estarão naquela região, serão três quadras de tênis, vôlei de praia, ainda não decidimos a terceiro, provavelmente será de futsal, estamos trabalhando também um projeto de arvorismo, faremos tudo para oferecer às famílias que vem pra cá o máximo de lazer dentro do hotel. Fora isso, estão sendo construídas mais três piscinas nessa região dos novos edifícios, a piscina principal começará a ser reformada em agosto e será aquecida, e no mesmo tempo também na fase dois da reforma, o antigo restaurante ele vai ser integrado com o terraço da frente do hotel, dentro e fora l para tornar uma área grande que terá 300 lugares, com especialidade em carnes de cortes finos além de um forno de pizza, pois hoje o cliente exige muito isso.

Diário: Essas reformas tem previsão de entrega?

Jan Von Bahr: Olha, o restaurante até outubro, piscina até dezembro,centro de convenções até fevereiro e o kids club até abril. Basicamente até maio de 2013 todas as obras estarão concluídas. Então estaremos com o hotel totalmente novo, o campo também vai sofrer modificações para ficar melhor, vamos fazer um trabalho para ter o hotel totalmente renovado e pronto até o meio de 2013, a tempo da Copa das Confederações. Inclusive temos um campo aqui no hotel, de dimensões oficial que já foi usado num torneio há alguns anos atrás quando as seleções do México e Uruguai ficaram hospedadas aqui e usaram, temos inclusive uma praça aqui com uma placa comemorativa.

Diário: Qual o investimento nessas obras?

Jan Von Bahr: Na primeira fase foram investidos 12 milhões de reais e na segunda eu não tenho o valor, mas deve superar isso. Está se investindo aqui para fazer um hotel de primeiríssima linha, não está se poupando nada, estamos usando material de primeira como pisos Porto Belo, cristais da Tchecoslováquia, móveis da Sierra, o Guilherme Paullus, que é o proprietário do hotel, tem muita preocupação em ter um produto de primeira linha, além da manutenção é claro, ele é muito detalhista, e se preocupa em manter o patrimônio, no que eu acho que ele esta certo, eu também sou muito ligado nesta questão da manutenção e preservação, para você ter uma idéia, o resort tem uma área de um milhão setecentos e dez metros quadrados, então estamos sempre pintando, arrumando, etc.



Na recepção a simpatia de Edineusa Soares e Sabrina Venancio A fachada do Hotel Omeletes e panquecas feitos na hora para o café da manhã


Diário: Falando em mão de obra, o Iguassu Resort tem um excelente serviço em todas as áreas. Qual é o segredo para atingir esse nível de excelência?

Jan Von Bahr: Em primeiro lugar, a mão de obra é muito difícil no Brasil em todos os sentidos, e aqui em Foz não é diferente. A briga pelos bons funcionários na cidade é muito grande, e esse hotel cresceu de um hotel bem mais simples de 70 quartos, para um de 190 que quer se posicionar como cinco estrelas. Eu acho que o grande segredo é em primeiro lugar ter pessoas que tenham vontade, ensinar, trabalhar com essas pessoas no sentido de fazê-los gostar do empreendimento, realizar treinamentos constantemente, reconhecer e valorizá-los pelo trabalho. Por exemplo, agora em agosto iremos trocar todos os uniformes, então o funcionário tem um bom uniforme, uma boa liderança, mas acima de tudo, a valorização do ser humano. Quando o funcionário se sente reconhecido, tem um refeitório decente, aliás eu como basicamente, quando não tem visita, todos os dias no refeitório porque a comida é excelente. Hoje temos 142 colaboradores e tratamos como parte da família, o próprio Guilherme Paullus, presidente do grupo, conversa com todos quando está aqui, sabe valorizar as pessoas, e é ai que está a diferença.

Diário: No que o reconhecimento das cataratas como uma das Sete Maravilhas da Natureza influenciou na demanda do resort e da região de Foz do Iguaçu?

Jan Von Bahr: O que eu tenho notado é um crescimento no turismo tanto nacional como internacional , conversando com o gerente de um outro hotel, contamos 58 países diferentes que estiveram aqui, outro dia tinha um grupo iraniano. É interessante você tem uma quantia muito grande de estrangeiros visitando a cidade. Que hoje recebe em torno de 500 a 600 chineses por mês, 400 coreanos e 200 japoneses, são mercados que você não vê em outros lugares do Brasil, eu acho que com essa premiação Foz se reposicionou de um destino de sacoleiros, no passado, que vinham aqui para fazer compras no Paraguai, para um destino muito bem montado, acho que a secretaria de turismo de Foz tem dois grandes produtos aqui, que são o parque das cataratas e o Itaipu, e pelo o que eu estou sabendo Itaipu não é só uma hidroelétrica, eles montaram todo um esquema para receber turistas, eles contribuem com verbas para a promoção de turismo, então eu acho que a conjuntura, o trabalho entre todas as entidades, governo, iniciativa privada e os Parques das Cataratas e Itaipu, então Foz cresceu muito e, na minha opinião, crescerá muito mais.

Se você olhar esses atrativos: Cataratas e Itaipu, quando você vai lá, parece que está em outro país. Eu já trabalhei em muitos destinos no Brasil, e aqui parece que você está na Disney, é tudo muito organizado, limpo, tem o ônibus que te leva explicando tudo, filas organizadas, bilheterias separadas da entrada, eu fiquei impressionado, é bacana você ver um negócio bem feito, é nisso que a gente peca muito. Por exemplo, têm cidades aqui, sem citar nomes, que possuem áreas que inclusive foram tombadas ou reconhecidas pela UNESCO, que quando você vai olhar na realidade não é nada daquilo, e por quê? Por falta de alguém que corra com a bola, que fale vamos fazer daqui um grande destino, aqui eles conseguiram. Você tem aqui o Convention Bureau, muito forte, a Secretaria de Turismo, na qual o secretário Felipe Gonzales trabalha muito perto do Convention e de Itaipu, e obviamente se você tem dinheiro , facilita a vida, mas eu vejo muitos destinos aqui no Brasil que tem as mesmas condições e podia fazer as mesmas coisas e não fazem. Você vai para uma praia, uma duna e está cheio de plástico, está sujo, a prefeitura não cuidanda da cidade, o governo do estado não cuida das estradas, e isso não é só em um estado do Brasil, são em muitos.



"Foz do Iguaçu conseguiu captar a mensagem, o grande problema que eu sempre tenho dito: que são poucos lugares que entenderam a importância do turismo."
Diário: O senhor acha que isso se deve a falta de união do poder público, setor privado e população em prol do turismo?

Jan Von Bahr: Não, eu acho que é muito mais porque Foz do Iguaçu entendeu a mensagem de que se eles não tiverem o turismo aqui, eles não tem nada, ou seja, eles tem atrativos maravilhosos que são as Cataratas, um negócio lindo que nos deixa sem fala, agora, se eles não aproveitam isso vão fazer o que aqui, ser uma região de agricultura, de fronteira? Tudo bem você pode fazer compras no Paraguai, mas hoje você pode muito bem ir para os Estados Unidos para isso. Então eu acho o seguinte: eles conseguiram captar a mensagem, o grande problema que eu sempre tenho dito, é que são poucos lugares que entenderam a importância do turismo. Você tem o exemplo do México, onde eu já morei em duas fases da minha vida, em Cancun e Acapulco; o governo do México criou destinos onde não havia nada, se você pegar Acapulco é um lugar árido, às vezes pior que o nordeste, e criaram uma cidade e toda uma estrutura em volta. Depois criaram Puerto Vallarta e Cancun, um destino no meio de lugar nenhum na península de Yucatan, e o que eles fizeram? Tudo que fizeram de errado nos outros, acertaram lá, infraestrutura, esgoto, água, energia elétrica, tudo foi montado e olha o que eles têm hoje, vivem exclusivamente do turismo. E aqui é a mesma coisa, agora eu acho que às vezes os estados e até o governo federal não levam o turismo com a importância que deveriam levar, porque o Brasil é como um continente, não um país, porque olha o que vocês têm, enquanto no sul está com zero graus, no nordeste faz 30. O país tem praias maravilhosas, cânions, rios, a Amazônia, o pantanal, tem muita coisa aqui que deveria ser valorizado, mas que infelizmente não é. Agora por outro lado, devemos pensar que esse é um país que não precisa viver só de turismo, tem indústria, agricultura, e eu acho que são setores que tem uma força muito grande, então não é que o turismo precise ser o produto número um, mas acho que falta um pouco mais de união, nós estamos avançando muito e acho que acabaremos chegando lá. A Copa do Mundo e as Olimpíadas em 2016 vão ajudar muito nós da área de turismo.

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